Uma seqüência hexadecimal está criando o maior rebuliço na web e no mundo da mídia de massa: 09 F9 11 02 9D 74 E3 5B D8 41 56 C5 63 56 88 C0. Por causa dela mundos e fundos estão sendo levantados para impedir, em vão, sua publicidade. Trata-se da chave criptográfica que quebra o sistema AACS (Advanced Access Content System) dos HD-DVD e do Blu-Ray com filmes e jogos com imagem de alta definição. Com eles vc pode ver os mais recentes títulos em qualquer mídia, pois eles são a chave que abre a porta artificialmente trancada.
Quando o hacker canadense Muslix64 criou o patch do Blu-Ray - no final de 2006 - era apenas a quebra do código de um disco. Mas trabalhando com a turma do Doom9 - eu amo esses caras - criou um gerador de chaves que funciona tanto no HD-DVD, quanto no Blu-Ray. E a divulgação da chave se alastra como um virus pela web desde que os blogs se viram compelido pelo AACS a tirar a informação do ar pq estavam divulgando a chave. Como no caso da chave do DVD - a famigerada CSS - a reação da indústria de massa provocou uma insurreição na rede. Desenhos, fotos, camisetas, música e o q mais vc puder imaginar estão sendo utilizados para divulgar essa chave mestra criptográfica que abre qualquer porta. A música feita por Keith Burgon cantando o código com sua guitarra acústica, conhecida como Oh Nine, Eff Nine, já é um hit no YouTube com dezenas de milhares de audições.
As indústrias de massa continuam tão estúpidas quanto antes. Como os imperadores antes de sua decapitação, são incapazes de aprender qualquer coisa. E Lehman, o pai de toda essa excrescência, parece ser a única pessoa sensata quando disse que o DMCA estva morto no Digital Dystopia da McGill.
O fato das empresas empalidecerem, mandando seus gerentes apagar o código à força dos blogs e dos sítios onde são publicados gerou uma outra insurreição. Pois quanto mais se apagava o código, mais ele se multiplicava; como uma espécie ameaçada de extinção. Com sua divulgação aqueles discos Blu-Ray e HD-DVD estão desprotegidos. A criptografia da indústria de massa sempre será falha e porca, porque seus segredos tornaram-se de polichinelo na era da multidão.
Um efeito colateral curioso foi a revolta do Digg. Rede social de notícias, o site ameaçado de processo pela AACS, começou a apagar as publicações do código. Mas no Digg as pessoas publicam, votam e definem o que é importante para ir à página principal. Os usuários se auto-regulam e intervenções externas acabam causando coisas estranhas, facilmente percebidas pela comunidade. Os usuários reagiram ao apagamento sistemático e inventaram uma "bomba" que fazia com que qualquer matéria da primeira página remetesse ao código proibido. Ao final do dia o fundador do sítio, Kevin Rose, reconsiderou a insanidade da exigência e publicou o código no próprio blog da direção do Digg, liberando a publicação dele no sítio, junto com uma declaração de que aquela comunidade havia decidido que preferia ver o Digg cair lutando (contra a lei) do que vêlo dobrando-se frente a uma companhia maior. Ele termina dizendo: Se perdermos, que diabos, pelo menos morremos tentando. O fato é que o processo contra uma rede como o Digg facilmente pode se tornar um tiro que sai pela culatra contra a AACS e demais leis assemelhadas. Sendo um sítio governado e mantido por gente de mídia, uma campanha por fundos para o processo e de mobilização contra as indústrias pode ser o rastilho de uma incontrolável explosão, como lembra o Mashable.
Seja como for, a coisa ficou preta para o CEO Jay Adelson. Ontem apareceu no Digg um artigo criticando-o. O artigo vem do blog Valleywag. Nele o blogueiro Nick Douglas critica o CEO do Digg, acusando-o de mentiroso e comprometido, por causa das entrevistas que esta dando desde que o evento pegou fogo. Nick mostra que o setor de Relações Públicas da empresa esta indicando Adelson para falar em nome da Companhia, mesmo que vc implore por Kevin. A escolha de Adelson para falar, ao invés de Kevin, marca uma decisão dos PR da firma por prudência. E o CEO, de olho nos bilhões que pode perder, tenta minimizar o incidente e apagar as chamas da revolta. Ele deu declarações para o New York Times, o Fortune, o Business Week e a Wired. Mas Adelson foi o escroto que anunciou o apagamento das mensagens com os códigos, para acatar o pedido do AACS, em uma nota onde não só afirmava a decisão de continuar fazendo isso, como parecia concordar com a justiça do pedido. Aí o fundador da empresa, Kevin, publicou ele próprio o código no blog da empresa, obrigando Adelson a recuar. Tudo indica que a PR achou mais prudente botar o Adelson pra falar, tentando evitar o processo. Mas os usuários do Digg querem a cabeça do bundão e escolheram Nick para ser seu porta voz. O Valleywag tem sua própria versão de todo o incidente e ela é bastante cáustica.
Já há quem compare toda essa movimentação com a carta impressa de Lutero pregada na porta da Igreja, que desencadeou a Reforma. Ela marcou a entrada em cena do poder da imprensa na sociedade e o poder da consciência individual na formação da massa. Poder este que gerou a mídia de massa e os formadores de opinião. A guerra do código que quebra a criptografia do HD-DVD e do Blu-Ray marca a afirmação dos que se envolvem com as práticas das mídias digitas como cidadãos digitais, e não mais consumidores.